segunda-feira, 24 de abril de 2017

EM CENA, NOSSO TEATRO - Parte 2



Em 1984 participávamos do JUNAC (Jovens Unidos com Cristo) grupo do MJMP (Movimento de Jovens do Meio Popular) da paróquia de Tuparetama. O grupo precisava de recursos para bancar a viagem dos integrantes para o encontro regional de grupos de jovens da pastoral católica do Meio Popular. Eu tinha 15 anos e incentivado pela presidente do grupo, Edilza Oliveira, escrevi e dirigi o texto “Lampião do inferno ao sertão”, baseado no cordel “A chegada de Lampião no inferno”. 

A peça foi apresentada em agosto de 1984 no Pajeú Clube, com Edilza Oliveira (Maria Bonita) Francisco das Chagas Cecílio (Lampião) Otacílio Lopes Oliveira, Zacarias Souza, Emilia Lopes Nogueira, Maria das Graças Feitosa, Luiz Carlos de Medeiros, Sônia Freitas e outros. Foi grande o sucesso da peça, preparada em menos de dois meses! 

Quando se fala em sucesso de público em teatro de Tuparetama até aqui, nos referimos a uma frequência motivada mais pela novidade e raridade do acontecimento em si do que pelo amor à arte, feita sem recursos cênicos apropriados e sem qualquer orientação técnica. O público também parecia se divertir mais com as falhas e erros do trabalho do que com a qualidade do espetáculo em si. De todo modo, pediram e a peça foi reapresentada mais duas vezes, sempre com casa cheia. 

Em seguida a “Lampião...” , em 1985, o grupo fez uma apresentação também no Pajeú Clube com textos e atuações totalmente improvisadas, quase uma espécie de leitura dramatizada, adaptada de A gema do ovo da ema de Silvia Ortof, com o título de “Rosinha fulô do amô prefeito”. A ousadia funcionou e trouxe retorno financeiro e elogios para o grupo, mas na verdade a motivação para o espetáculo improvisado era a falta de tempo para ensaios. Eu acabara de sair das minhas atividades na Biblioteca Municipal, como auxiliar (iniciadas em 1984) e estava cuidando, com iniciativa do então prefeito Pedro Tunu, da criação da Casa da Cultura de Tuparetama, a primeira a ser implantada na região. Outros jovens do grupo também tinham pouco tempo disponível, quer pelas exigências dos estudos quer pelos trabalhos que a maioria fazia em casa ou no comércio. 

Decidimos em algum momento que o grupo de teatro do JUNAC deveria ter um nome próprio, daí criamos a sigla ASATEMPO (Associação Amadorística Teatral do Meio Popular) e decidimos encenar a peça “Aprendizes da esperança”, um texto meio panfletário de minha autoria, escrito no calor dos acontecimentos da Nova República, em 1985. Tratava da história do assassinato do operário Santo Dias e da luta pela reconstrução da democracia no Brasil. 

Mais uma vez os recursos arrecadados com as apresentações da peça seriam utilizados para bancar uma viagem do grupo JUNAC ao encontro estadual em Recife. Pressionados pela data da viagem, estreamos com o texto e a montagem ainda não totalmente ‘resolvidos’. Mas a mistura de drama, política, panfleto, cenas com ação e violência, poesia e música, num espetáculo (guardadas as devidas proporções) beirando o teatro épico de Brecht (apesar da total ignorância de todos do grupo sobre Brecht e seu teatro) tocou o público, que gostou do drama e perdoou as muitas falhas. “Aprendizes da esperança” também fez muito sucesso de público, sendo reapresentada duas vezes no Pajeú Clube e garantindo dinheiro para a viagem do grupo. 

O amadurecimento do grupo ASATEMPO, em linguagem e proposta, deu-se com 'Ópera dos oprimidos', uma colagem de textos de diversos autores apresentada em fevereiro de 1992. Eram seus componentes Emília Lopes Nogueira, Júnior Ancelmo Lopes Nogueira, José Galdino dos Santos, Lucivanda Patrícia, Luciana Souza e Tárcio José. Foi o primeiro espetáculo ensaiado e montado no palco do Auditório da Secretaria de Educação. 

No ano seguinte, incentivados pelo sucesso dos Festivais de Teatro realizados na cidade, o grupo incluiu novos integrantes: Geová Lourenço, Rejânia Brito, Lucineide Paiva, Tânia Paiva e André Araújo e passou a usar o nome TEATRAMA. O Teatrama tornou-se o grupo de maior sucesso além dos limites geográficos de Tuparetama, com a peça TRANSITIVO-RELATIVO, também escrita e dirigida por mim. 

Transitivo-relativo teve sua estréia no palco de Centro Cultural de São José do Egito. Em seguida apresentou-se na nossa cidade no Auditório da Educação e na Igreja Matriz durante a festa do padroeiro, a convite do padre José Piotto; apresentou-se também em Afogados da Ingazeira na Faculdade de Professores e no Centro Diocesano; em Sertânia no Festival de Cultura, em Monteiro-PB e em Arcoverde, quando participou da MOSTRA DE TEATRO AMADOR daquela cidade, concorrendo ao lado de grupos de Recife, Petrolina, Caruaru e Arcoverde. Recebeu indicações para ‘melhor cenário’ e ‘melhor figurino’. O grupo se desfez após este trabalho. 

Em 1997 foi montado pela primeira vez na cidade um espetáculo unindo teatro e dança, foi o ‘Auto da noite santa’ minha adaptação do texto ‘O boi e o burro no caminho de Belém’ de Maria Clara Machado, que dirigi para o Balé Infantil de Tuparetama, utilizando personagens da cultura nordestina, em particular do Bumba-meu-boi. O ‘Auto da noite santa’ foi apresentado na cidade e também no SESC Arcoverde e em Monteiro-PB. 


O trabalho com teatro em Tuparetama, nesse período, não se limitava aos nossos grupos. Na última gestão do prefeito Pedro Tunu (1992 a 1996) a prefeitura municipal apoiou financeiramente a vinda de artistas para a cidade como forma de incentivar o desenvolvimento das artes, principalmente música (com Bira Marcolino, Sales Rocha e Maestro Cheiroso de Sertânia) e teatro, com Romualdo Freitas e Luiz Lima Navarro. A atuação de Romualdo foi fundamental para o fortalecimento e crescimento das artes cênicas, contribuindo também para a realização dos festivais de teatro da cidade com participação de grupos de todo o estado e apoio da Federação do Teatro Amador de Pernambuco. 

Também durante a década de 90 a professora Maria Martinha Marques encenou vários textos com seus alunos do curso magistério, desenvolvendo um trabalho de significativa importância para as artes cênicas e a educação de Tuparetama. Destacamos entre seus trabalhos, cheios de soluções simples e criativas para driblar a precariedade de recursos disponíveis, a encenação de 'Pluft o fantasminha' em 1992, premiada e elogiada no Festival de Teatro desta cidade, e Flicts, de Ziraldo, em 1994. Também merece destaque a encenação do esquete "Festim das Almas Poetas" resultado de oficina das estudantes do magistério com o diretor e ator Breno Fittipaldi,

NOTA:  Esse relato sobre a história do teatro no município é um texto revisto e adaptado do nosso livro “Tuparetama- o livro do município” cuja pesquisa foi realizada até 1999, ano de sua publicação. Evidentemente nos 17 anos subseqüentes muitas outras ações de teatro foram realizadas, novos grupos surgiram a exemplo dos Teophilos, Festivais como os dois promovidos pelo Rotaract Club, que revelaram nosso então jovem talento Odília Nunes, Antônio José Xavier e seu trabalho com crianças e adolescentes do Peti e Pro-jovem, a Mostra de Teatro de 2010, com espetáculos de Pernambuco e Paraíba, entre outros. No entanto esse período da história precisa ainda ser melhor pesquisado e anotado.

Tárcio Oliveira 
Texto adaptado de "Tuparetama, o Livro do Município"
 Por gentileza citar a fonte e autor ao utilizar essas informações

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