segunda-feira, 24 de abril de 2017

EM CENA, NOSSO TEATRO - Parte 1



A primeira encenação teatral em Tuparetama de que se tem notícia teria acontecido no ano de 1941, quando a localidade ainda era Vila Bom Jesus, distrito de Tabira. A encenação foi realizada pela professora Adalva Marques Macieira com seus alunos. Entre esses nossos primeiros “atores e atrizes” mirins estavam José Rabêlo de Vasconcelos (já falecido, renomado advogado, professor e escritor) e Maria Inete Pessoa, filha do fazendeiro Francisco Zeferino Pessoa, cidadão que hoje dá nome à escola municipal do Bairro Bom Jesus. 

Alguns anos mais tarde foram realizadas também encenações curtas chamadas de ‘dramas’, apesar de seu teor geralmente cômico ou burlesco. Essas apresentações eram organizadas por Maria do Carmo Dias (já falecida, antiga funcionário dos Correios e Telégrafos), com o objetivo de arrecadar recursos para as festas religiosas e para a construção da igreja matriz. Dessas encenações participavam, entre outros jovens da época, Carmelita Lucas e Maria Angélica de Oliveira (Dalia) esta última como uma personagem negra, pintada com carvão, e pelo que ela me contava a respeito, seria uma espécie de Catirina

Um momento importante para a história do teatro de Tuparetama se deu a partir do ano de 1976 quando foi criado um grupo jovem nesta paróquia, formado por estudantes do segundo grau, da Escola Paroquial (Escola Cenecista Bom Jesus, onde hoje funciona a Escolinha Mario Marangon). O grupo jovem realizava diversas atividades estudantis, esportivas, religiosas e artísticas, sob coordenação do padre e professor Egídio Bisol (hoje bispo diocesano), italiano recém chegado à Diocese. 

Nessa época o médico Herbert Bezerra Leal, de Arcoverde, contratado pela Prefeitura e pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais, passara a residir em Tuparetama e por causa de sua experiência em teatro quando estudante no Recife, foi convidado a trabalhar com o grupo jovem. O 1º trabalho teatral do grupo foi a Paixão de Cristo, que foi apresentada na igreja local e também em Sertânia. No elenco desta primeira encenação estavam, entre outros, Ediraldo José de Oliveira, Anselmo Nóbrega, Vandércio Damião, Oreana Menezes, Adilino Leite Perazzo, Vera Lúcia Menezes, Cícero José Guimarães da Costa, Dionete Leite, Sebastião Menezes e Rosi Sousa.


O sucesso da empreitada animou o grupo para um segundo trabalho e atraiu novos integrantes como os jovens Marcos Fábio Luciano, Maria do Socorro Pereira, Rita Maria Pessoa e Pedro Romero Leite Perazzo. Esse segundo trabalho foi a montagem do espetáculo Forró em Macambau ou Como se conquistar uma herdeira rica ou Como se fazer um bom enterro. A peça, adaptada a partir de textos de Ariano Suassuna, foi apresentada no Pajeú Clube, com grande repercussão na cidade. A Via-Crucis de Jorge foi o terceiro e último trabalho do grupo, uma adaptação para os dias atuais da vida e morte de Jesus Cristo e foi apresentada na lateral externa da Igreja Matriz, para um grande público presente. Percebia-se nos trabalhos teatrais do grupo jovem a atenção com recursos cênicos como marcação, cenário, figurinos, adereços, iluminação, sonoplastia e direção de atores. 

Já em 1981 os estudantes da 7ª série da Escola Ernesto de Souza Leite decidiram montar uma peça de teatro para arrecadar dinheiro com a bilheteria e iniciar uma ‘poupança’ já com pensamento na festa de conclusão do ano seguinte. Montou-se a peça Chapeuzinho Vermelho de Maria Clara Machado, com direção de Emília Anastácio. A peça foi encenada no Pajeú Clube, tendo entre os integrantes do elenco, Tárcio Jose de Oliveira Silva (sim, sou eu), Maria Evani Palmeira, Flávia Túlia Meira Nóbrega, Soraia Pessoa, José Galdino dos Santos, Otacílio Lopes de Oliveira e Hilário Gomes

No mesmo ano esses estudantes – que também formava o novo grupo jovem da paróquia – fizeram uma encenação sobre agricultores, êxodo rural e sindicalismo, para as atividades do mês da bíblia (outubro). A peça tinha cunho político e religioso, com base na Teologia da Libertação. Foi apresentada no pátio da igreja e sobre um caminhão, em plena rua, na segunda-feira. Pelo conteúdo apresentado, causou um certo rebuliço e provocou algumas discussões na comunidade. Autoridades locais chegaram a classificar o grupo como subversivo e comunista, termos muito em voga na época. O certo é que não houve tanta ousadia assim na peça que pudesse ser classificada de comunista ou subversiva e as supostas ameaças dos comentários não foram além. A ditadura estava nos seus últimos anos.

Tárcio Oliveira 
Texto adaptado de "Tuparetama, o Livro do Município" 
Por gentileza citar a fonte e autor ao utilizar essas informações

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